Corre risco de vida, está em "ponto de não retorno", sem direito a medos na "revolução que não morreu". Mondlane esteve com a direita em Lisboa, com todos em Berlim. Mas "pai" Marcelo ignorou-o.
Quando, nesta sexta-feira à noite, Venâncio Mondlane aterrar em Maputo, depois de duas semanas na Europa, vai olhar bem em volta. Tem a informação, não confirmada, de que há um mandado de captura em seu nome. Pode ser detido no aeroporto. Razão? Não sabe. Está sob termo de identidade e residência — é alvo de muitos processos judiciais, cíveis e criminais, por incitação à desobediência, denúncia caluniosa, indemnização por danos causados ao Estado, ou ofensa ao Presidente, por exemplo. Mas o principal opositor ao regime moçambicano cumpriu todos os requisitos legais para sair de Moçambique e fazer um “périplo pela Europa” em busca de apoios para o seu movimento político e divulgação “dos atentados e violação dos direitos humanos” no seu país.
Regressa tranquilo à capital moçambicana, assegura em entrevista ao Observador, dois dias antes de apanhar o avião. Se for detido, o governo moçambicano e a Frelimo, o partido que está há 50 anos no poder, estarão a ajudar o seu movimento, garante. “Volto, se é para ser preso não é problema nenhum. Até é um grande favor. A coisa mais difícil, mais trabalhosa, e extenuante, é acordar todos os dias e pensar qual é a estratégia, o que fazer, como responder? Apartir do momento que me prenderem, esse trabalho será facilitado, será uma espécie de bypass, há muitas etapas que vamos ultrapassar estando detidos, vai ser um grande favor, para mim epara a revolução”. E mais não diz.
Na bagagem, leva o conforto de apoios recebidos à direita (em Portugal e na Alemanha) e à esquerda (apenas em Berlim), ele que não se diz nem de direita nem de esquerda, apostado que está em reconfigurar as ideologias do futuro, sem o peso das crispações europeias. E na sua mala de mão, carrega um vazio: a não respostade Marcelo Rebelo de Sousa.
O caminho da revolução moçambicana faz-se agora nos meandros legais, não nas ruas, nos apertos de mão com o seu adversário-mor, o Presidente do país e líder da Frelimo. Mesmo que Daniel Chapo dê sinais contraditórios. Mesmo que os jovens façam pressão para voltarem aos protestos, num Turbo V25. Agora é o tempo institucional. Mesmo que o sistema coloque entraves à constituição do seu partido. Mesmo que o convite para o Conselho de Estado ainda não o tenha sentado nesse órgão. Se o percurso jurídico falhar, outras alternativas haverá. Quais? Venâncio Mondlane não detalha. Pelo caminho escolhido, já perdeu o nome Anamalala para o partido. Não se importa de ceder, isso é atitude nobre, enaltecidapela Bíblia.
Para já vê vantagens nas declarações em que Daniel Chapo nega um acordo entre os dois e tão depressa diz que ele está a aspirar ao lugar de Luis XIV como salienta que o Presidente está a agir comose fosse “um assessor predileto” do próprio projeto político de Venâncio Mondelane, “Tudo o que está a fazer é a seu desfavor, é uma estratégia desastrosa sob o ponto de vista político e social”.
O rosto da contestação pós-eleitoral que sacudiu Moçambique durante mais de três meses em 2024, em que 400 ou 600 pessoas morreram (número varia consoantes as fontes das organizações não governamentais), muitas mais ficaram feridas e pelo menos duas mil continuam detidas (também aqui os dados variam, Mondlane fala em 4 ou 5 mil) começou o a sua visita europeia em Lisboa, onde lançou uma marca de roupa, VM7 (o nome por que é conhecido no seu país).
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